Das janelas do Hotel Sol Victória Marina, no Corredor da Vitória, em Salvador, pode-se ver, diariamente, a imensidão do mar e da Baía de Todos do Santos. Mas, nos dias 26 e 27 de novembro último, em seu auditório, não só a beleza do mar foi percebida. No I Seminário Estadual, "Mulheres no poder fazendo a diferença", promovido pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa, além de se evidenciar os inúmeros anos de preconceitos, de machismos e autoritarismo, revelando com isso o imenso abismo social e político enfrentado pelas mulheres, pode-se perceber também que elas estão trilhando um caminho certo que as levarão a concretizar o imenso sonho de alcançar mais espaços no poder e assim construir um mundo mais justo, sensível e igualitário. "Não adianta ser mulher e só chegar ao poder. É preciso ter consciência que, ao chegar neste espaço, é necessário elevar a consciência da sociedade marcada pela desigualdade de gênero, mostrando que mulheres no poder fazem, com certeza, a diferença", enfatizou a deputada Neusa Cadore, presidente do colegiado.
Prefeitas, vice e vereadoras de diversos municípios do estado diminuíram a imensidão da Bahia, mostrando que, apesar do distanciamento geográfico, todas que participaram do evento estavam imbuídas dos mesmos desejos. Na oportunidade, Gerusa Dias Laudano, prefeita da cidade de Pojuca, destacou que apesar das conquistas, "as mulheres ainda não se conscientizaram que elas podem, com sua sensibilidade e força, unindo ao aprendizado já conquistado, mostrar que tudo é possível". Marivânia Silva, vice-prefeita de Ribeira do Amparo, falou orgulhosa de sua conquista. "Sou a primeira vice da cidade", ressaltou, revelando que em outro processo eleitoral, quando pleiteava o cargo de prefeita, após não ter conseguido ganhar as eleições, foi agredida pelo seu adversário. "Registrei queixa, mas, como a Lei Maria da Penha ainda não existia, ele não foi condenado".
PALESTRAS - A socióloga Stefane Silva, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, defendeu que existe uma "sub-representação das mulheres na política". Para ela, dentre outros aspectos, existe a ótica perpetuada de que as mulheres não têm interesse e não estão preparadas para o poder. "Muitas vezes, até mesmo as próprias mulheres acham que têm que se modificar para participar da politica e, com isso, acabam preservando a visão masculina". Segundo Ana Alice Alcântara Costa, pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (NEIM), da UFBA, a ampliação das cotas destinadas para as mulheres precisam ser revistas. "Somos 51,73% do eleitorado brasileiro, e a média geral da ocupação feminina é de apenas 10%". Segundo ela, a rejeição contra as mulheres não acontece no nível populacional. "O boicote está no partido e nas regras", assegurou.
Muitas deputadas estaduais, que fazem parte desses 10% citados por Ana Alice, aproveitaram o seminário para reafirmar a necessidade de politicas públicas capazes de dirimir os problemas enfrentados. "Apesar de algumas de nós terem alcançado o poder, é preciso debater não só as questões das cotas, e sim políticas públicas de valorização da mulher", enfatizou a peemedebista Marizete Pereira, destacando as vitórias alcançadas nos últimos anos, como a aprovação da Lei Maria da Penha e a criação e implantação das Varas de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. "As mudanças só acontecerão quando um número maior de mulheres se engajarem na vida pública e começarem a lutar em prol da saúde, educação e habitação", salientou Maria Luiza Laudano. "Além de procriar, criar e desempenhar atividades domésticas, teremos um papel de estímulo muito importante. Como existe a cultura do acomodar, existe a cultura do subverter. E precisamos de mais mulheres na política", destacou a petista Fátima Nunes. Participantes ativas do encontro, as vereadoras Madalena Mafra, de Rio de Contas, Maria de Lurdes, de Malhada de Pedras, e a vice-prefeita de Malhada de Pedras, Edilza Maria Teixeira (Lia), afirmaram que o seminário foi produtivo e agregou novos conhecimentos para o desempenho dos seus mandatos, além da troca de informações sobre projetos, gestão pública, orçamento, entre outros.